Instituições e aprendizes do Rio de Janeiro realizam mobilização contra a redução das cotas de aprendizagem
Aprendizes participaram do ato, realizado na ALERJ
Por Luan Costa
As entidades sem fins lucrativos que executam Programas de Aprendizagem no Rio de Janeiro se uniram na última quinta-feira, 13/09, para protestar contra a redução das cotas de aprendizagem. Entre aprendizes, representantes das instituições formadoras e demais interessados na causa, mais de 600 pessoas, de acordo com a organização do ato, participaram da mobilização, que teve início no Museu do Amanhã, na Praça Mauá, e seguiu pela Avenida Rio Branco, até chegar às escadas da ALERJ.
A pauta da manifestação foi a redução das cotas de aprendizagem, que vem sendo articulada por algumas instituições com a casa Civil do Governo Federal. Se concretizada, essa medida poderá afetar mais de 700 mil adolescentes e jovens à procura da primeira oportunidade no mercado de trabalho.
Os aprendizes participaram com cartazes, bandeiras, placas e, principalmente, a voz. Para mobilização nas redes sociais, foi utilizada a hashtag #VotePelaAprendizagem. Durante a passeata, trabalhadores pelo Centro do Rio que pararam suas atividades para acompanhar a manifestação ouviram gritos como: “Um, dois, três! Quatro, cinco, mil! Não tire o emprego dos jovens do Brasil”, “Calma, minha gente! Vote consciente! Sem jovem aprendiz, o Brasil não vai pra frente!” ou ainda “O jovem unido jamais será vencido!”. Um senhor que passava pela Praça XV questionou o motivo da manifestação. Ao tomar conhecimento, disse: “Interessante. Minha filha é aprendiz. Se é para defender o emprego desses jovens, eu apoio!”, afirmou.
Após se posicionarem nas escadas da ALERJ, os aprendizes continuaram entoando seus gritos, que se revezavam com o Hino Nacional, até que fossem atendidos pela casa. O Presidente interino da Câmara, Deputado André Ceciliano, recebeu representantes dos aprendizes, das entidades presentes e do FEAP-RJ, e se comprometeu a acompanhar a causa. A ALERJ emitirá uma moção de apoio que será divulgada na próxima semana.
Nos jovens aprendizes presentes, um dos principais sentimentos presentes era o de estar lutando por toda uma geração: “Eu estou aqui hoje, apoiando esse movimento, porque o Programa de Aprendizagem mudou a minha vida de uma forma extraordinária. Eu sou morador do Complexo do Lins, e se não fosse o Programa, eu não teria oportunidade de ter uma condição de vida melhor, de estar aqui fazendo o que a gente está fazendo. O Programa Jovem aprendiz pode, sim, mudar a vida de um jovem, pode tirar o jovem da vida do crime [...] O Programa Jovem Aprendiz pode mudar o futuro do país”, afirmou o jovem Lucas Cabral, de 20 anos, aprendiz da Rede Pró Aprendiz Rio.
Participaram da mobilização as seguintes instituições:
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Associação Beneficente São Martinho;
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Associação Cristã de Moços;
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CAMP Mangueira;
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CECAMP Noel Rosa;
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Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE Rio;
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Instituto Brasileiro Pró Educação, Trabalho e Desenvolvimento – ISBET;
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Instituto da Oportunidade Social;
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Instituto Locus;
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Pastoral do Menor;
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Rede Pró Aprendiz Rio;
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Saber Instituto Brasileiro de Aprendizagem.
Para Karla Pedrosa, gestora estadual de aprendizagem do ISBET, um dos pontos de destaque foi o protagonismo dos aprendizes: “A manifestação foi muito importante pela causa da Aprendizagem, mas principalmente por podermos despertar em nossos jovens a consciência cidadã. Incentivamos o Protagonismo quando damos voz aos jovens e eles tomam para si a importância do Programa de Aprendizagem, possibilitando a construção de novos sonhos e novas histórias”, afirmou.
Dados cruzados da PNAD Contínua de 2016 e do Ministério do Trabalho mostram a relação entre a Aprendizagem e o combate ao trabalho infantil. Ao mesmo tempo em que houve uma significativa queda nos índices de trabalho infantil no país, a Aprendizagem Profissional cresceu. Além de promoverem a integração do adolescente e do jovem ao mundo do trabalho, os Programas de Aprendizagem atuam diretamente no combate à evasão escolar e contribuem para a erradicação do trabalho infantil, na medida em que adolescentes afastados dessa condição têm a oportunidade de ingressar no mercado formal por meio da Aprendizagem.
Apesar de a Lei da Aprendizagem – Lei nº 10.097/2000 – estar completando 18 anos, as empresas no Brasil ainda não cumprem integralmente a cota. Dados da OIT mostram que, no país, o percentual de aprendizes em relação ao total de trabalhadores empregados é de apenas 0,7% – quando a lei prevê uma cota mínima de 5% –, ao passo que países desenvolvidos, como Suíça e Alemanha, apresentam um percentual de 4,4 % e 4%, respectivamente.
Reduzir a cota de aprendizagem, além de significar um retrocesso, um descompasso com os países desenvolvidos, reduzirá, ainda mais, a empregabilidade das novas gerações de trabalhadores pelo Brasil.
Confira algumas fotos do manifesto: