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Os Potenciais da Juventude

 


03/092018

Por Victor Ladeira - CIEDS* 

 

Ao analisarmos os principais desafios sociais da atualidade e tentarmos projetar um futuro melhor, falar de juventude torna-se mandatório. Ao mesmo tempo em que a população jovem aparece no epicentro das questões sociais, como os sujeitos que mais sofrem os impactos negativos da contemporaneidade, surge também como a geração capaz de solucionar problemas extremamente complexos que perduram há décadas em nosso país e no mundo.

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma, por exemplo, que essa é a primeira geração na história que pode acabar com a pobreza extrema e garantir o futuro das pessoas e do nosso planeta¹. Considerando a visão da ONU para 2030², de fato, é possível inferir que a juventude possui papel estratégico na construção de um futuro mais justo e próspero. Para tanto é fundamental sensibilizar e engajar esse público, sobretudo na faixa de 14 a 24 anos, tendo em vista que, nos próximos 12 anos, as escolhas e ações dessa geração podem ser determinantes para o cumprimento ou não dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável³. Neste sentido, a ONU alerta que, mais do que nunca, precisamos nos tornar cidadãos globais, agindo localmente, mas conectados com o impacto das nossas ações no mundo.

Não por acaso, esta definição se assemelha bastante com as características da Geração Z, jovens nascidos entre o início da década de 1990 e o ano 2010, o que reforça o potencial da juventude na construção de um mundo melhor. Um dos maiores especialistas da atualidade em estudos geracionais, Ryan Jenkins, aponta que a Z é a primeira geração verdadeiramente global com interesses e caminhos ilimitados de aprendizagem. Esses jovens são hiper-conectados e imediatistas, o que garante uma noção geral do que acontece ao redor do mundo e uma enorme motivação para realizar. Jenkins sugere que o mote da Geração Z seja coisas boas acontecem para aqueles que agem4.

O fato posto é que o mundo mudou e os jovens também mudaram. A juventude atual está hiper-conectada, em busca de propósito em suas ações e, para eles, o conceito de sucesso é bastante diferente se comparado às gerações anteriores. De acordo com dados da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), levantados em pesquisa de análise do perfil da juventude brasileira, em 2013, cerca de nove em cada dez jovens brasileiros afirmam que podem mudar o mundo5. Ao mesmo passo em que esses dados nos motivam e fortalecem a nossa confiança em um futuro melhor, nos obrigam a lançar um olhar mais criterioso para a juventude do nosso país.

Neste sentido, para além de garantir que os adolescentes e jovens estejam ocupados formalmente e gerando suas próprias rendas, é igualmente importante compreender o quanto essa geração está ocupada com a elaboração e execução dos seus projetos de vida, em uma perspectiva de protagonismo social, participação cidadã e impacto positivo na sociedade. Além disso, precisamos exaltar as suas potencialidades, enquanto grupo diverso e heterogêneo, que protagoniza lutas pelo acesso aos direitos e pela inclusão social, em suas infinitas possibilidades de interseções com a cidade e com um mundo, que como essa geração, é globalizado, hiper-conectado e está em constante mudança. O encontro de características geracionais com a resiliência e a vontade de mudar da juventude, se bem coordenado, torna-se uma ferramenta poderosa de transformação social.

É fundamental, portanto, entendermos os potenciais da juventude e lançarmos mão de toda essa energia em processos de ideação coletiva e construção compartilhada de conhecimento na busca de soluções para o enfrentamento de questões sociais complexas, na maioria das quais os próprios jovens figuram como elementos centrais. Conquanto essa força juvenil seja ampla e diversa, o CIEDS entende, a partir da sua experiência de 19 anos atuando com esse público e da análise das características da Geração Z, que podemos elencar quatro grandes potenciais da juventude. São eles:

 

     1. Potencial de Conexão: Os jovens dessa geração são os mais conectados e globais da história, pois já nasceram com a internet disseminada e consolidada. Para eles, é impossível imaginar um mundo desconectado ou sem a possibilidade de contatos via internet. Limites geográficos são superados, caminhos encurtados; não há limites para a obtenção de informações e de aprendizado; as redes de contatos são infinitas e a troca de experiências potencializada, ampliando os repertórios socioculturais e as possibilidades de crescimento pessoal. Eles falam o que querem e se conectam com quem precisam. Para além da tecnologia e da internet, essa geração cresceu mais exposta à diversidade do que as gerações anteriores; questões de gênero e raça são comuns e naturalmente assimiladas, o que reduz o preconceito e abre novas possibilidades de conexões com pessoas e grupos diversos. (60% dos brasileiros dessa geração buscam apoio de outras pessoas para planejar e desenvolver uma ideia e 56% afirmam que a internet ajuda a criar e estruturar suas soluções e negócios6.)

     2. Potencial de Realização: Essa é uma geração autodidata, proativa, que sabe utilizar o seu potencial de conexão para identificar oportunidades, criar redes e buscar informações que lhes permitam colocar seus planos e ideias em prática. Esses jovens possuem iniciativa e persistência, são inquietos e empreendedores. Não se importam com cargos ou nomenclaturas e colocam suas missões de vida em primeiro plano. Querem fazer algo que tenha sentido e, por isso, criam mais do que as gerações antecessoras. (71% dos brasileiros dessa geração gostariam de empreender7.  88%  dos  graduandos  em  2017  consideram  oportunidades  de emprego antes de escolher a faculdade8.)

     3. Potencial de Inovação: Como são inquietos e empreendedores, os jovens dessa geração procuram a todo o momento novas formas de fazer as coisas. Curiosos, ousados e conectados em redes, possuem capacidades ampliadas de encontrar soluções diferentes para desafios antigos. Estimulados por um repertório global e diverso, enxergam o mundo com novas lentes e possuem uma grande facilidade de sonhar e ter ideias mirabolantes. Querem mostrar que são diferentes por meio de um agir diferente. Não têm medo de arriscar e buscar o novo. (64% dos jovens acreditam que a inteligência artificial terá um impacto positivo no trabalho deles9.)

     4. Potencial de Confiança: Essa é a geração que acredita que tem a missão de salvar o mundo, pois herdaram um planeta em grande desordem socioambiental e entendem que precisam agir para mudar a história. São jovens autônomos e que possuem autoconfiança para encontrar soluções para seus problemas e seguir suas missões de vida. Emitem suas opiniões com firmeza, sem receio de serem contrariados, e possuem grande poder de persuasão. (90% dos brasileiros dessa geração afirmam que podem mudar o mundo10. 75% dos recém formados estão dispostos a mudar de cidade por causa de oportunidades de trabalho11.)

 

Não nos restam dúvidas de que esses potenciais nem sempre são evidentes e, por vezes, são ofuscados pela falta de oportunidades, de uma escuta ativa e de um olhar atento para os jovens. Neste sentido, acreditamos que a aprendizagem profissional e a educação empreendedora podem ser importantes ferramentas para descortinar e promover os potenciais da juventude, fortalecer o protagonismo juvenil e a inserção produtiva de adolescentes e jovens, estimulando, assim, o desenvolvimento socioeconômico de seus territórios, ressignificando e reinventando a cidade e melhorando o mundo em que vivemos.

A troca do discurso simplista da ociosidade perigosa ou da geração “nem-nem” por   um  olhar  criterioso  sobre  os potenciais  da  juventude  possibilita  ao  Estado  e  às organizações privadas e da sociedade civil uma atuação mais estratégica, de longo prazo e, sobretudo, conectada aos principais agentes do nosso futuro.

​​Referências:

1.      https://nacoesunidas.org/tema/ods1/

2.     Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. https://nacoesunidas.org

3.      ONUBR, Nações Unidas no Brasil. https://nacoesunidas.org

4.      27 Stunning Millennial Statistics About Our Future Employees, Leaders, Consumers, and Parents. Ryan Jenkins.    https://www.ryan-jenkins.com/

5.      Secretaria Nacional da Juventude (SNJ). http://participatorio.juventude.gov.br/

6.      Pesquisa Juventude Conectada – Fundação Telefônica Vivo – IBOPE – USP

7.      Pesquisa Juventude Conectada – Fundação Telefônica Vivo – IBOPE – USP

8.      Gen Z rising, da Accenture Strategy, de 2017.

9.      Gen Z rising, da Accenture Strategy, de 2017.

10.    Secretaria Nacional da Juventude (SNJ). http://participatorio.juventude.gov.br/

11.    Gen Z rising, da Accenture Strategy, de 2017.

 

*Victor Ladeira é Diretor de Desenvolvimento Institucional do CIEDS

(Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável)

e possui experiência de 10 anos em programas de desenvolvimento social

baseados na educação e no fomento ao protagonismo juvenil.

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